terça-feira, 2 de dezembro de 2014

procura-se.

Eu estou desaparecido. Porque sequer existo de fato. Não sabem meu nome. Meu endereço muda constantemente. Eu queria entender como é possível viver. E, ainda que não entenda, eu sei que é. Eu tento voar no que sinto ser relevante. Às vezes tenho medo de cair por não ter asas. Meu corpo dói. Mas minha alma está suave. Como o chá. Faz um certo frio. Nada que eu não sinta com os fantasmas que rolam em meus espaços. Arrepio tenho na nuca quando eles passam. Quando a tocam, doidos. Até quando eu permanecerei tocado? Será que é possível me livrar desse arrepio vindo dos outros? E vindo dos meus fantasmas? Esse arrepio que me faz ficar arrepiado frente à indiferença. Que julga, condena, e pouco se importa. Mais que isso: até quando é possível fingir ser o que não se é? Eu quero dizer a verdade, sendo-a. E mostrando-a para essa sociedade que tanto cobra valores, sem segui-los. Para essa sociedade que tanto se diz sem preconceitos e mata por intolerância. Que prega amor, e odeia. Que não quer o capitalismo, mas se recusa a dividir o pão. Que diz ser de fé, e faz guerra em nome de Deus. Tudo é mentira. Até a verdade. E eu digo isso porque sinto que nem mesmo o que me sustenta diz o que carrega. Não sou modelo de referência. Tampouco tenho pretensões de sê-lo. O que desejo é tão simples. É que seja aceito, sem rótulos e hierarquias sociais, tudo o que existe. Tudo o que é diferente. Sonha a minha razão, eu sei. E se desfaz em lágrimas emocionais, admito. Às vezes eu me levanto sem ter motivo. Mas me lembro do quanto é bom saber que ainda existem possibilidades de valores e sentimentos 'epifânicos'. É importante compreender a essência. E as pessoas são capazes disso. E é por isso que eu quero mudar. E é por isso que eu acredito que seja possível. Façamos a tal mudança. Que essa estrada de desaparecidos, onde eu me incluo, seja resgatada. Que essas minorias que nela se encontram caminhando sejam resgatadas. Para o lugar que as pertence; o mundo, as boas relações, a vida. Que se tenha lógica a lógica do sistema.
J.V.Kaisen