quinta-feira, 24 de novembro de 2011

gesto.

Se segurarem minhas mãos, a palavra some. Eu tenho que gesticular. O gesto faz com que as palavras sejam poesia. Tudo o que se fala, se dito também com as mãos, soa maior. Mais verdadeiro. É como amar. Não bastam as palavras, mas sim os gestos. Enfim. Amar é bom. Mas por que diabos essa tal felicidade tem que doer? A menina dos olhos castanhos costumava-me guiar, usando apenas o brilho dos olhos, em plena escuridão. Afagava-me a pele. Tocava o que pulsava em mim. Dizia-me palavras bonitas. Lia o meu cantar. Naufragava-me em meio a seus beijos. Mentia que me amava. Fazia-me sangrar. Porque pra que eu fosse feliz precisava sentir essa dor aguda. Que vem de dentro e esquenta todo o corpo por fora. Mas a dor passou. Assim como a felicidade. Ela bem que podia dizer que ainda me ama. Com palavras. E com as mãos. Soaria maior. Mais verdadeiro. Mas que diabos! Era tanto nó pra desfazer, então por que logo nós?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

só para ti.

Só para ti eu guardei meus sonhos.
Guardei meus anseios.

Só para ti eu guardei meus segredos.
Guardei até as minhas mentiras.

Só para ti eu guardei meu fogo.
Guardei o meu amor.

Só para ti eu guardei minhas certezas.
Guardei meu corpo nu.

Só para ti guardei o céu.
Guardei o sol.
O sol para ti.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

incerto.

Com o tempo eu aprendi que não devo colocar a minha felicidade nas mãos do outro. O outro não nasceu ao meu lado, não passou a vida ao meu lado, não vai morrer ao meu lado. Infelizmente, tenho que ser egoísta nesse ponto. Se não for assim, eu vou ficar à deriva, sempre. Como um barco sem rumo. E eu não quero isso pra mim. Olha, desculpa, mas tenho que dizer. Caso você não me queira mais, nunca mais, eu não vou sangrar. Não vou mais sentir dor alguma. E tá, tá tudo certo se você não me quiser. Eu vou sofrer um pouco, pouco não, seria amenizar, mas sangrar? Sangrar nunca mais. Eu não quero mais perder um segundo alimentando a ilusão de que você me pertence, de que um dia vai estar tudo bem, a gente vai se juntar. Eu não posso ficar nessa espera. Eu não posso, não devo e não quero esperar. Se for pra ficar, vem pra mim agora! Você tem essa escolha. Eu já fiz a minha. Não sei se estou certa, mas certeza a gente nunca tem. Certo?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

os cinco elementos.

Sempre ouvi dizer que eram quatro, os elementos. Água. Fogo. Terra. E ar. Hoje, indo a mais uma de minhas terapias habituais, descobri que não. São cinco. Acrescente àqueles mais um: o espírito. É ele quem une todos os outros. É ele quem junta tudo e faz virar uma completude de ideias. Água é a maior parte do nosso corpo. Fogo é o que nos dá prazer, tesão, vivacidade. Terra é o conjunto das coisas mundanas, dinheiro, bens e o escambal. Ar é o que nos nutre, é nossa comida. Espírito é o que nos move, nos dá coragem para viver. Enfim, é a essência da vida incorpórea. Precisamos estar em harmonia com  os cinco elementos para vivermos bem. Isso, é claro, se quisermos ser os protagonistas de nossas vidas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

eu, um fragmento.

A noite ilumina-se pela luz de uma vela. E, ainda que com seu calor, faz frio. É que tudo agora parece maior. Os cacos. A solidão. Tudo faz com que minhas mãos sejam levadas ao alto. Bem estiradas, para tentar agradecer. Agradecer pelo simples fato de termos nos conhecido. De termos vivido uma história. Foi bom. Talvez, mágico. Abafo meus gritos para que, em silêncio, eu possa te dizer. Não. O amor não chegou ao fim. Ainda me esquento pelo calor da vela que você deixou alumiada em meu quarto. Ainda olho sua foto, perplexa, por não acreditar que acabou.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

luz e trevas.

Costumo dizer que a vida tem dois caminhos. Mas sem essa de certo ou errado. Tem-se o lado esquerdo e o direito. Um denota luz. O outro, trevas. Bom seria se todo mundo conseguisse andar no meio. E até acho que a gente consegue. Claro que sim. Andamos no meio. Mas sempre tem aquela hora em que rompemos para um lado. O ser humano não passa de um pêndulo. Hora está em trevas, ora está em luz. É inevitável. A vida é assim. Claridade e sombra. Medo e coragem. Amor e ódio. O mais relevante é saber como sair de cada situação da melhor forma possível. Se uma porta é fechada, pule a janela. Se o atalho, que até então parecia melhor, estiver cheio de pedras, passe pelo caminho mais longo. Talvez lá esteja o ouro que você tanto procura. Talvez lá esteja o amor, maior tesouro que se pode encontrar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

tempestade.

Era madrugada de quinta-feira, certamente o verão ainda não chegara. O céu tímido, muito escuro. Nada de sol ou lua para iluminá-lo. Meu corpo só era corpo. Nada de alma ou coração para despertá-lo. Eu sentia cansaço e um sono tão agudo e profundo que chegava a doer. Foi quando caiu a primeira gota. Gelada. Em meu rosto parecia que acabara de cair uma lágrima. Mas não era uma lágrima que me pertencia, mas sim àquela nuvem negra. Fazia um barulho estonteante, que assustava a qualquer pessoa que ainda caminhava nas ruas da cidade. Os ventos se encorajavam naquele instante. E eu ali, esperando pelo cair da segunda lágrima, digo, da segunda gota. Quando dei por mim aquela nuvem negra chorava com uma intensidade emocionante. Foi quando me vi chorando também. Fosse por tristeza, fosse apenas para fazer companhia ao céu. Sentia meus dedos dos pés dormentes. As mãos estavam trêmulas de tanto frio. Despi-me inteiramente para sentir aquele aguaceiro cair pelo meu corpo; sempre gostei da chuva. Fosse pelo cheiro de terra molhada que me remetia à minha infância, fosse pelo simples fato de me sentir novamente de alma limpa depois de um banho. Dali, onde estava, via uma mulher se escondendo por debaixo de um toldo e, subitamente, atentei-me ao que ela fazia. Parecia ser muito bonita, pelo menos de longe era essa a impressão que eu tinha. Fui até lá. ''O que quer de mim?", ela disse. ''Do rosto eu quero a maçã, da boca uma mordida", respondi. Ela me pareceu assustada com aquelas palavras, mas continuei a seu lado, nua, esperando que ela falasse que queria o mesmo. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela levantou-se e deu-me um abraço que há muito eu não recebia. Saimos dali e fomos andando de encontro à tempestade. Foi ai que ela me beijou. E foi ali, naquele momento, que toda a dor que eu sentia acabou-se instantaneamente. Foi o beijo mais molhado que eu já dera em toda a minha vida. De mais sabor. De mais intensidade. Ela se despiu também e fizemos amor. Na rua. Chovendo muito. Mal acabamos e ela disse que teria que ir embora. Nessa hora a tempestade abria lugar para o nascer do sol. Eu disse não, mas nem assim se pode evitar. Ela se foi. Não sei seu nome. Não sei onde mora. Não sei onde posso encontrá-la. Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu vou estar naquele mesmo lugar toda vez que se fizer tempestade. Quem sabe então assim, ela não volte para mim? Daquele lugar onde minha alma e meu coração voltaram a habitar meu corpo, daquele lugar eu jamais poderei esquecer.