sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

grito de espera.

Não é certo. Por isso a angústia. O que mais pode acontecer? Não sei. Como eu disse não é certo. Mas alguma coisa tem que mudar. Nem que seja a angústia. Nem que seja o peso. Eu vou suportar tudo isso. Porque tudo isso, tenho certeza, é menor do que meu corpo. E a minha alma pesa mais. E existe a vontade. O querer do que ainda está por vir. Eu quero. E que um caminhão me atropele. Porque eu vou me erguer. Eu serei a carga que ele carrega. E um dia, mesmo com chuva, ainda com tempestades, eu vou chegar ao meu destino. E as setas indicam o sossego. Elas indicam que amanhã, ou depois, ou depois ainda, fará sol.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

de uma viagem.

Seria tão bom se eu inventasse uma máquina. Uma máquina que me levasse anos à frente. Porque o que me incomoda agora é o que vai acontecer. O passado, passou, borracha nele, e vamos lá. Mas e ai? O que vem depois? O que está guardado pra mim? Eu gostaria de me ver aos trinta. Ou quem sabe aos quarenta. Seria tão bom. Se eu pudesse inventar uma máquina eu me transportaria pra lá. Onde as coisas que a gente não sabe já acontecem. Será que esse lugar existe? Será que eu já vivo uma vida que vive na frente? Seria tão bom se eu soubesse. Se eu pudesse inventaria uma máquina. Pra ser mais segura diante à insegurança que é viver. O que eu queria era ter a certeza de que vale mesmo a pena passar por tudo isso. Seria tão bom. Talvez eu me forme. E tenha um trabalho. Talvez eu não tenha mais paciência pra estudar. E viva do dinheiro da minha mãe. Talvez eu tenha alguém que me ame do meu lado. E que eu ame também. Talvez eu fique sozinha. E viva num apartamento empoeirado sem ninguém. Talvez eu ganhe na loteria. E abra um café. Talvez eu doe tudo o que eu tenho pros outros. E seja feliz assim. Talvez eu tenha cachorros e adote filhos que me darão netos e bisnetos e talvez eu seja uma mãe. Ou um pai melhor do que o meu foi pra mim. Será que eu vou ser o quê? Melhor, eu vou ser um dia? E quando? Eu queria saber. Seria tão bom. Talvez eu goste mais das flores. E seja viciada em jardins. Talvez eu perca o medo das coisas. Ou comece a ter medo de mim. Talvez eu engorde alguns quilos. De tanto comer doces. Talvez eu emagreça ainda mais. De tanto comer, cigarros. Talvez eu pare de fumar. Ah, pode acontecer tanta coisa. Ficaria dias aqui pra enumerar. Eu poderia morar em São Paulo ou Londres ou Paris ou Milão ou continuar aqui nessa vida pacata e sem graça e parada no mesmo lugar. Seria tão bom se eu pudesse inventar essa tal máquina. Não pra tentar consertar algo, sem essa de efeito borboleta, eu queria saber só por saber. Se eu me visse sorrindo, ah, seria um alívio. Eu viveria tudo sem esse receio de viver. Tá, já sei que não posso inventar nada. Nem ver o futuro. Tenho que me focar no agora e ponto, vamos lá, já esqueci o passado, agora é a vez de não pensar no amanhã. Porque, pensando bem, não seria tão bom assim. Essa coisa de já saber o que vai acontecer. A vida é incerta mesmo, estamos ai pra isso, reticências, é hora de continuar. Pensando bem, bom mesmo é conhecer alguém que não se imagina, se encantar por gostos que não se imagina, concretizar o que nunca esteve nas mãos. É quase magia. E beira à perfeição. Se eu tivesse inventado uma máquina que me levasse anos à frente, sabe o que eu faria? Eu a destruiria. Porque uma certeza eu já tenho. A vida me guarda só aquilo que eu posso segurar. E boas ou más, bonitas ou feias, tristes ou felizes, venha o que vier, vou abrir meus braços pra dizer, 'estou pronta pra enfrentar'. E que tudo seja máximo. Que a dor seja assim. Pra que a alegria de passar por ela venha tão intensa quanto se é intenso viver.