segunda-feira, 31 de maio de 2010

na estação.

Fazia frio naquela noite. Frio mesmo. Daqueles em que os pés imploram pelo aconchego do bem amado. Mas tinha uma coisa que era quente. O hálito dela. O que saía de sua boca me aquecia como fogo ardente. Era doce. E meigo. E tinha gosto de amor. Ah, meu Deus, o que é que acontece comigo? Eu nego, renego e depois me entrego inteira a essa paixão. Minha cabeça parece um trem que insiste em parar na mesma estação a cada viagem. Quando é que eu vou tomar outra direção? Quando é que as minhas costas não vão me pedir de joelhos pelo toque de suas mãos? Quando é que eu vou saber que o quê eu mais quero é você? Ah, meu Deus, o que é que acontece comigo? Eu estou louca pra sentir de novo o molde do seu corpo nu em meu corpo nu. Eu estou louca pra que você se enfie inteira em mim. E me aqueça. Com seu fogo ardente. Quero dedos, língua e lábios. Quero seu gosto, de amor.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

dilema.

É inverno no meu coração.
Agasalho nenhum esquenta.
Por quê que eu não pensei nisso antes?
Fazer de sua pele meu cobertor.
Fazer de seu lábio intenso fervor.
Fazer de seu sexo completo ardor.
Por quê que eu não pensei nisso antes?

domingo, 23 de maio de 2010

erótico.

-Acorda, amor. A diária termina em 30 minutos.
-Ah, mas a gente não pode ficar por mais um dia?
-Não, não temos dinheiro, só nos resta pro cigarro.

E realmente não tínhamos. Nada, além de dois reais. O resto fora roubado junto à mochila, ainda na boate.

-Não posso mais viver assim, Malu.
-Sem amolações agora.
-Ah, mas você vai me ouvir.
-Não, é você quem vai me ouvir. Então acha que estou adorando essa coisa toda? Drinks e mulheres gostosas se esfregando em mim por toda a noite, e o que eu faço? Me rendo ao seu jogo, me enfio num carro com pessoas que nunca tinha visto (...)
-Você também quis.
-Não me interrompa!, (...) e agora estou aqui, num drive-in fudido, a roupa vomitada, com dinheiro contado pra comprar um cigarro tão vagabundo quanto eu. Ah, tenha piedade! Não me venha com reclamações nessa altura do dia.
-Desculpe, não se zangue tanto. Venha, vamos transar nesses 15 minutos que nos restam.
-Você, Ciça, sou completamente louca por você. Sua maluca, venha cá.

Enfiei logo os dedos naquela boceta de que tanto gostava. -Parece sujo, mas fazíamos amor-. Tinha cheiro do sexo que fizemos durante horas naquela madrugada. Esfregava seu clítoris com raiva, querendo logo o gozo, era só o que eu ainda podia ter, Cecília gemia baixinho, era um som de deleite que me deixava muito excitada. Me joguei de cabeça em meio àqueles pêlos, estava pouco depilada, eu não gostava tanto, mas estava ali, vamos, até o fim. Língua ali, lambendo tudo, os dedos enfiados no canal.

-Onde é que você estava? Isso, ah, está incrível.
-Cale a boca. Goze pra mim, querida.

Dito isso, gozo. Fim. Fomos embora.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

saudosismo.

Eu tenho uma caixinha onde guardo pequenas coisas, daquelas que pequenas são só no tamanho, e hoje, remexendo em velhas bagunças, me atentei às lembranças. Havia cartas, juras de amor, de um alguém que agora eu não me recordo sequer o nome. Bilhetes, papéis de bala que embalaram e deram sabor a um beijo molhado de final de tarde. Era tudo tão, tão pequeno. E frágil. Era tudo tão simples que,  o que para mim era ouro, pra qualquer outra pessoa não passava de lixo. E , vasculhando, achei um 3x4. Você em pausa no retrato. Te ver ali me encheu de um sentimento que não tem nome, é como se eu me sentisse um fragmento introspecto, alguém que se perde em uma nostalgia em particular. Eu costumava te chamar de amor no tempo em que você me deu aquela foto. Mas agora? Agora não. Você não passa de um conhecido que eu desconheço. Me lembro nitidamente de como era o seu sorriso, meio tímido, bastante discreto e cheio, cheio de brilho. Seus olhos me indicavam a direção. E seus cabelos, ah, tão lisos, tão limpos e cheirosos. Eu sinto falta da falta que você me fazia. Porque hoje não faz mais. Eu consegui me desprender de você, por inteiro. Eu consegui te ver sem sentir as tais borboletas no estômago. Eu consegui socorro pra minha saudade. Olha, meu velho amor, eu queimei a sua foto. Não me faz bem ficar olhando pra esses seus olhos toda vez que abro a minha caixinha. Mas uma coisa eu também fiz. Guardei as cinzas num saquinho e pus de volta na tal caixa. É pra que toda vez que eu veja essas cinzas eu me lembre o que você se tornou pra mim. Pó. E pó eu posso jogar pela janela que o vento leva. Mas não. Vou deixar as suas cinzas bem guardadas na caixinha. Deve ser porque se eu te tiro de lá, ela deixe de ser ouro. E se transforme em lixo. Deve ser porque depois de tanto tempo você ainda viva em um pedaço de mim. Numa metade escondida de mim. Deve ser porque depois de tanto tempo eu precise desse pó pra continuar respirando. Deve ser porque eu te amei. Deve ser porque eu ainda te amo. É, deve ser.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

opostos.

Ser sozinho é não ter alguém, em corpo, ao lado. A solidão é diferente. É quando não se é acompanhado pela própria sombra. É como estar distante da própria alma. É como se dentro do peito não houvesse coração.

domingo, 9 de maio de 2010

dom de iludir.

Era uma noite fria, na cidade de Belo Horizonte, quando o telefone tocou.

-Alô.
-Quem fala?
-Alô? Alô?
-Oi, tá me ouvindo agora?
-Ah, sim, quem fala?
-Leo.
-Leo! É Alice, como vai?
-Sentindo a sua falta.
-Que tal um jantar?
-Tô sem grana.
-Aqui em casa mesmo, eu cozinho pra você.
-Assim, sim. Hoje?
-Hoje?
-Uhum.
-Oito e meia.

Era um rapaz decente, meia altura, olhos escuros, feito duas jaboticabas, muito pretos, e fundos, havia olheiras naqueles olhos, tamanho o cansaço, era consequência de seu trabalho, não gostava de ser chamado de carteiro, era um 'entregador de cartas' e, acredite, há muita diferença entre as duas profissões, enfim, andava por meio a cidade durante horas sem descanso, imaginando as milhares de histórias de amor que colocava nas caixas de correio, e a história dele? Ah, era uma luta, amava muito, uma menina que o considerava seu melhor amigo. Era Alice, jovem mulher, de apenas dezessete anos, (ele tinha dezenove), linda, cabelos ondulados, pele branca como neve e uma boca rosa-batom. Leo era perdidamente apaixonado por ela e, como não se viam há alguns dias, não esperava pelo telefonema de sua amada, não naquele dia, um dia comum, uma segunda-feira cheia de cartas de cobrança que, pelos envelopes, de cor bege, sem graça, não eram cartas de amor.
Pois bem, Leo desandou a preparar-se para o tal jantar. Se banhou em sais e óleos perfumados, penteou os cabelos e foi.

Oito e meia. (Toca a campainha).

-Quem é?
-Alice, sou eu, Leo.
-Pontual como sempre, não é meu querido? Já vou abrir.

Ao entrar sentiu logo o cheiro de carne assando no forno. A sala estava com a mesa posta e tinha velas enfeitando cada canto do local. Alice estava especialmente linda naquela noite. Vestia-se com um vestido simples, mas que caíra perfeitamente em seu corpo delgado e cheio de formas.

-Alice, você está linda.
-Ah, que bobagem Leo, assim você me deixa envergonhada.
-Não deveria ficar, está mesmo deslumbrante.
-Fome?
-Hum? ... ah sim, um pouco.
-Temos massa e carne. Já quer comer?
-Comer? Você?
-Como, eu?
- É, você.

E se beijaram. Tiraram as roupas um do outro instantâneamente e, quando a coisa estava para acontecer, houve uma pausa. Alice disse:

-Não posso.
-E por quê não?
-Não, não posso. Você é como um irmão.
-Mas eu te amo como minha mulher.

O silêncio se instalou e só o que se ouvia era a respiração ofegante de Leo, desesperado por não conseguir ter Alice por inteiro. Eles se olhavam fixamente, o carinho que sentiam atravessava pela alma nua e pelos corpos despidos dos dois.

-Alice, eu te amo. Quero você entregue a mim.
-Eu também te amo, Leo.
-Então por quê você não quer ficar comigo?
-Já disse que não posso.
-Hum. Vou embora.
-Já? Não quer provar o jantar?
-Eu vim pra me empanturrar de você. Se você não pode, só o que posso é me retirar.
-Mas Leo...
-Não, Alice, estou cansado desse seu jogo de quer-não-me-quer.
-Desculpe, é que, eu...
-Não peça desculpas. Só me ligue se me quiser de verdade. De corpo inteiro.
-Não posso ficar sem você.
-Chega Alice, chega. É melhor que eu vá.

E Leo se foi. Chegou em casa, fez um drink, acendeu um cigarro e começou a escrever. Escreveu centenas de palavras soltas e sem o menor nexo num papel surrado. Pegou um desses envelopes de cor bege, sem graça, e colocou aquilo lá. No dia seguinte, foi para o trabalho, levando consigo o que havia escrito. E pra quê? Para colocar em uma das caixas de correio, no lugar das cartas-cobrança que tinha que entregar. Era a sua esperança de ser correspondido, só o que ele queria era um bilhete que dissesse sim ao amor que ele estava disposto a dar. Mas não. Leo não recebeu resposta. Nem de sua carta, nem de sua Alice. -Onde é que você está, Alice? Pensou. Mas já era tarde e ele não tinha mais fôlego pra pensar no amor. Porque o amor, o amor demanda fôlego. E, sem amor, para ele, era difícil respirar.

O rapaz nunca deixou de escrever 'cartas pra ninguém'. Todos os dias colocava um envelope com seus escritos numa caixa de correio, sonhando em viver um grande amor. É uma pena, mas, pelo que sei, ele nunca encontrou respostas. 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

cuidado.

É muito sofrimento pra tão pouca idade. Dor de amor, dor de perda, há, quanta dor. E hoje, quando completo meus dezenove anos, olho pro meu passado e penso, -quanta coisa eu já fiz. Quanta gente eu já machuquei. Penso no quanto sou flor que não se cheira. Eu sou flor de espinhos que cortam e ferem e furam e matam. Meu coração é de gelo e, minh'alma, estátua de pedra. Já vou avisando, cuidado ao se aproximar. Eu sou general. E general nunca (nunca mesmo) dá guarda pra soldado.