domingo, 26 de maio de 2013

a cintura da ampulheta.

Direita e esquerda seriam assim. O fato e o ato. O amor e o laço. O cão e o gato. O novo e o jovem. Pareço estar delirando, talvez esteja, mas é o que acontece. Somos domados pelo oco e viciados pelo que nos preenche. Somos ora criança, ora velho em chama. Chama que se acende, que se apaga. Acende quando nasce. Termina quando morre. Mas mesmo que em término, em morte estarrecida, vive plenamente do outro lado da vida. Vive-se na morte. Engraçado isso. O lado oposto carrega a mesma areia que te move. O lado oposto é você por instantes. É o preto e o branco, quando tem-se que ser o preto no branco. É a verdade que escorre, cada parte, com um sonoro ar de mentira. O ódio que quando transborda, transforma-se em amor. O cabelo que lava o corpo. O azar que impede a sorte. E a guerra que não me deixa em paz. O tempo que esconde a perda, mas que põe em cena o que eu vou dizer agora: não há nada que não possa ser revertido. Caem os grãos, mas eles voltam. Mais intensos do que foram outrora. É ser o meio para ser metade um, metade outro. É a saída para se encontrar os dois lados, ainda sendo um.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

canto do mar.

Talvez seja ínfima a partitura. Desliza, toca, surpreende, dança, cala. Onda do mar, azul. Vai pra cima, volta todo o  seu corpo para baixo. Descansa os pés na areia da praia, conhece o limite do desassossego em  cada curva que faz quando em fúria. O que quer que seja, entre muitos quês e poréns, vai e volta. Sempre precisa descansar os pés. E por isso faz da areia seu chão. Não muito firme, é certo. Mas de uma maciez... até o corpo se rende e também quer repousar. Deita, queima e continua, no ritmo de seu coração.  

quarta-feira, 8 de maio de 2013

geme.

Morde. Morde, por favor, morde. Mostra-me o lado quente dessa vida, num sopro frio e sem harmonia no meu pescoço. Morde  que como chuva forte eu molho você. Morde que afinal de contas, eu estou crua. Morde que meu corpo está nu. Morde que com instinto te deixo tonto de desejo. Vem, morde. arrepia meus pêlos do corpo inteiro e se faz tempestade também. Morde meu interior inteiro e se faz garoa também. Morde e me deixa tonto, já estou ficando pronto, pronto pra entrar em você. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

ano novo.


Para o fim e o recomeço desejo que seja notável a minha noite. 
Vou fechar meus olhos às 23:59 para dizer que naquele dia eu preguei os olhos.
E abri-los-ei à meia-noite para ver o abismo de outros olhos.
Vou respirar fundo ao cair da noite só pra sentir o ar do novo ano.
Vou cair madrugada adentro embriagando-me de gozo e poesia.
E depois eu continuo, -não o texto, isso faço agora.
Continuo o ciclo. 
Preguiça, cigarro, café morno, dia quente, noite fria, madrugada gélida.
Leve desse lugar, leve dessa alma, todo peso que esconde.
Toda fumaça que inala.      
Todo amor qe corrói.
Toda fome que se instala.
Todo gelo dos corações.
Toda medida que não resta.
Todo amanhã que não nasce, toda noite que não dorme.
Que seja infinto porque dura.
E eterno porque morre.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

que título cê vai dar? han?


-Não sabe?
-Não, (vírgula) sabe.
-Não, sabe. Faz toda diferença.
-As pessoas não entendem a diferença que faz!
-Faz toda diferença na vida.
-Que diferença faz?
-"Que diferença? a vida é igual,
assim e eu não sei.
Eu não sei...
Não sei..
Eu não sei..
Se isso é você.
-Quem bate aí?
-Se é pra eu te ver então deixa eu dormir."
-Não tô entendendo.
-Há coisas que não precisam ser entendidas, apenas vividas.
-Nossa, isso é seu? 
-É sim.
-Então escreve.
-Escrever? Não, claro que não.
-Escreve, agora eu quero. Escreve.
-Nossa, tá bom.
-O quê tá bom?
-Começar a entender isso.
-Isso o quê?
-Que faz toda diferença.


Uma palavra, um gesto, um beijo quente e úmido, a boca seca de desejo, um olhar que penetra e desvia sem jeito. Uma noite que chega a ser perfeição. Conexão. Apenas conexão.