quinta-feira, 29 de outubro de 2009

.

Sempre gostei do cheiro de páginas de livro.
Descobri isso ontem.
É que eu organizava bagunças.
(não as do quarto, mas as internas).
E pensei,
mas pensei tanto!
(me faltou tempo até pra pensar no que eu pensava).
Fui logo pensar no quanto a vida é triz.

-Para Grace Urrutia e Michelle Milo-

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

veneno, pra cura.

Encontrei o veneno pra minha cura.
Não recomendo encontrar.
Logo sobe à cabeça.
Logo se decide envenenar.
(Que é pra curar do tédio que é curar-se de amar).

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ponto final.

Ainda ontem inteiro.
Bastou uma só palavra sua,
hoje em pó.
Você poeira,
que se foi.
.


Era só uma resposta. O que eu precisava. Uma resposta pra que eu pudesse entender nosso fim. Sei bem que quando uma coisa não começa não pode acabar e que é preciso viver tudo aquilo pra dizer que existiu e que não vivemos e que não sabemos o que foi que vivemos mas é que essa coisa me consumiu e ai você sumiu sem deixar endereço e eu fiquei aqui sem entender buscando o por quê dessa coisa toda que acho até que seja amor. Estava de porre e por isso te liguei. Não estou dando desculpa até porque é você quem devia me pedir desculpas por todas as culpas que me fez sentir. Mas eu estava de porre. Vazia, uma garrafa de conhaque. Limão, gelo, sal. Eu tinha que dar um jeito de sair de mim pra que eu pudesse te ouvir dizer o que eu já sabia que você ia dizer mas eu não queria escutar aquelas palavras que viriam acabar de vez com a fé que ainda pulsava em meu peito nu. Eu não suportava escutar sem que eu me embriagasse. Talvez como um bêbado, como um bêbado e louco, eu me esquecesse, eu me fizesse amnésia, eu fingiria não saber o o que eu já sabia que você diria. E você disse. E eu me lembro. A bebida não fez de mim um esquecido. Você disse. Justo o que eu não merecia ouvir. “Foi engano. Tudo não passou de engano.” Ai eu te digo. - Engano? E quanto a tudo aquilo que dissemos? Aquele abraço foi um engano? O tempo não marcava as horas naquele instante e você vem me dizer que foi engano? Aquele beijo quase que doído e desesperado numa madrugada ainda mais fria do que aquele frio fim de tarde em que te conheci? Isso também foi engano? Não, não posso entender. Posso menos ainda aceitar. Você não seria tão personagem. Eram poucas as suas palavras. Mas seus olhos; seus olhos me diziam mais. Não era um cenário. Não era um simples texto decorado por você. Não é justo que fosse. Não é justo que eu tenha entrado em sua dança, não é justo que eu tenha te enfeitado a cama, que eu tenha amado assim sem que você sentisse pelo menos uma fração do que eu sentia. Não é justo. Quando ouvi meu telefone tocar, já esperava sua ligação. Você iria retornar àquele meu primeiro sinal. Te digo que precisava mesmo daquilo. Era como uma libertação; uma prece fervorosa em inteção a mim. Eu sabia que depois daquele telefonema eu seria livre. Eu sairia das grades que não me permitem ver a luz. Que não permitem à luz o tocar por inteiro meu corpo. Grades que me fazem sombras. Eu me sentiria fora do seu compromisso, dentro da rotina de um outro alguém. É, porque até então, eu ao menos me dei a chance de encontrar uma nova forma de ver o amor. Mas depois daquela ligação, depois disso eu me deixaria viver. Pra mim chega de solidão. Chega de alimentar amarguras. Chega de fundo e chega de poço. Chega de tristeza no olhar. Chega de mentir pra mim mesmo. Chega de pesos e chega de passado. Eu te desejo um amor com amor tal qual o meu. E te desejo coragem. Sonho. Estradas sem fim. Te desejo sorrisos. Te desejo lágrimas. Eu te desejo tudo aquilo que desejar. Faz chuva nessa madrugada. E esse é meu último adeus. É a última vez em que falo pra você, meu amor, de amor. Será hoje o dia em que irei dormir sem antes pensar se você pensa em mim. Se você me espera. Se você me amou.Vou recuperar aquilo que há muito me deixei escapar; dignidade. Vou viver sem vírgula, reticências ou interrogação. Quero agora um ponto. Um ponto que me leve a um novo caminho. Um ponto que me deixe pronto pra recomeçar. Que me deixe pronto pra te encerrar. Era isso o que eu precisava. Uma resposta que nos desse um ponto final. É justo não mais falar de amor.

.
Ainda hoje em pó,
bastou uma só palavra sua.
Amanhã, inteiro.
Você poeira,
que se foi.

sábado, 24 de outubro de 2009

pela imagem.

À frente do espelho.
Como se eu me fosse beijar.
Como se de perto eu me pudesse ouvir.
Como se eu pudesse olhar bem no fundo
daqueles olhos que também eram meus.
Eu só queria me aproximar de mim...
Ainda frente ao espelho.
Agora já distanciado daquela imagem.
Como se dali eu me pudesse ensurdecer.
Como se eu me pudesse decifrar
por aqueles olhos que também eram meus.
Eu só queria me esquivar de mim...
Pego um livro.
Quebro o vidro.
Como se quebrada a imagem, morto o corpo.
Como se eu pudesse fechar meus olhos
àqueles que também eram meus.
Eu só queria me livrar de mim.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

amanhã, sol.

Minha boca é tão seca.
Meus olhos estão inundados em lágrimas secas.
Lágrimas que insistem em não cair.
Estão se pondo...
Tão perto dali, de onde se vê.
Tão dentro dali, de onde se sente viver.
Têm ritmo até,
mas falta tom.
Têm sombra até,
mas falta cor.
Têm fim até,
mas falta meio.
Meus pés são tão frios.
Meu corpo está fardado em cicatrizes frias.
Cicatrizes que insistem em se abrir.
Estão se pondo...
Tão perto dali, de onde se entra ar.
Tão dentro dali, de onde se consegue respirar.
Têm ritmo até,
mas falta tom.
Têm sombra até,
mas falta cor.
Tem fim até,
mas falta meio.
Minha cabeça anda tão vazia.
Meus sentimentos estão postos em pensamentos vazios.
Pensamentos que insistem em lembrar.
Estão se pondo...
Tão perto dali, de onde se crê.
Tão dentro dali, de onde se sente viver.
Têm tom até,
mas falta ritmo.
Têm cor até,
mas falta sombra.
Têm meio até,
mas falta fim.
Eu hoje estou me pondo.
Quero amanhã nascer, junto ao sol.
E depois dormir, junto a mim.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ando blasé.

Estou no limite da dor. Estou no limite do medo. Já não tenho limite. Faço das palavras a última vertente do meu ser. Faço do trago o desespero que com desespero tento me livrar junto à fumaça; num sopro. Ando em passos sinuosos na pista contrária à minha direção. As marcas hemorragem internamente meu corpo. Obedeço à ordem quase inconsciente que me manda permanecer só. Me descubro blasé. Não vejo nada, quero nada. Nada me faz sentir como eu antes me sentia. Sou agora nada além de um amplo vazio repleto de vazios, pesos e solidão. É como se eu tivesse a certeza de que buscar por novas sombras me levaria penumbra adentro. Me levaria de encontro a essa sede que me sufoca e que aos poucos me seca e me deixa assim, sem sede de viver. Quero poder sair da subjetividade do meu eu. Me sobra impaciência. Tudo aqui me parece maior. E eu me pergunto se voltarei a dormir como antes. Comer como antes. Me apaixonar como antes. Amar como antes. Me pergunto se me trarei de volta a mim. Se deixarei a vontade tomar o lugar da indiferença. O futuro o lugar do passado. Se deixarei o presente assumir seu lugar. Num gesto quase que involuntário aproximo dos lábios, agora frios e trêmulos, um último cigarro. É só mais um sinal de angústia, apenas mais um lapso de ansiedade e frigidez. - Que me saia o tédio. Que me deixem as lamúrias. Que eu possa me reinventar. Que eu saia do sério. Que eu não perca os critérios. Que eu queira novamente querer. Então é o último trago. E acabo de me lembrar, esqueci de dar-lhe o último beijo. É esse o estímulo vital que me falta pra continuar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

extremo.

Nunca a noite foi tão escura e seca e fria. Nunca o dia foi tão claro e seco e quente. Nunca fui tão noite e dia e seca e fria. Sempre quis. Sempre amei. Nada fiz. Esperei um sim, disse não. Desejei te gritar, silenciei. Condenei seu medo, me faltou coragem. Sempre procurei pra me achar, te perdi. Escrevi, mas nunca entreguei. Nunca ao menos pude saber se lia e entendia que tudo isso é seu. Às vezes sinto que sente o mesmo amor que pulsa em mim. Às vezes não. Às vezes penso estar pensando o mesmo pensamento que você. Às vezes não. É tanta insensatez. Tudo que eu queria era o dançar de suas pernas junto às minhas. O balançar de seu corpo junto ao meu. Queria um gole de seu beijo, um gole de seu suor, um gole de seu gozo. Queria me embriagar de você. Queria manhãs em verso, tardes em prosa, noites em poesia. Eu teria curado suas dores. Teria massageado suas costas. Teria feito brigadeiro para que coméssemos de colher enquanto víamos um filme de amor. Teria acordado de madrugada para me certificar que seus pés estavam cobertos. E até deixaria você me puxar o cobertor. Teria te levado pra jantar e para ver o pôr e nascer do sol e pra pular de páraquedas e nadar em Noronha e ver o mundo de Paris. Eu teria aprendido a dançar forró. Teria aprendido a tocar melhor meu violão. Teria te comprado flores e discos. Teria lido pra você dormir. E teria me levantado às 6:oo pra te levar o café. Teria dividido sonhos, guardado segredos. Teria construído uma casa de campo com lareira e sem Tv. Teria feito um luau. Assado marshmallow's. Teria nos comprado cães. Teria me esquecido dos problemas. E teria tido mais sorrisos. Teria chorado menos. Sentido menos saudade. Se você tivesse ficado. Se é que você chegou a vir. Eu teria te beijado na chuva. Teria tirado seu retrato. Eu diria mais a verdade. E te levaria num parque de diversões. Eu teria descoberto seu prazer. E saberia sua cor preferida. Te cantaria em letra e melodia. Eu teria te ensinado o que sei. E aprendido com o que sabe. Teria fechado seus olhos. Teria feito você suspirar. Teria mordido seus lábios. Teria te dado minhas mãos. Eu te acalmaria nos sustos. E te ampararia nos medos. Eu faria planos. E te assumiria pra minha família. Aceitaria seu mau humor. Eu te colocaria um apelido. E sussurraria seu nome. Eu seria pontual. E não teria hora pra voltar. Eu saberia falar francês. E veria graça em seus defeitos. Eu me sentiria menos só. Eu teria parado carros pra você atravessar. Eu teria comprado passagens de avião. E até teria ido a um show sertanejo se você quisesse ir. Eu seria mais paciente. Menos vulnerável. Seria mais feliz. Menos angustiada. Eu dormiria mais. E teria menos pesadelos. Se você tivesse ficado. Se é que você chegou a vir. Se você tivesse ficado eu teria te amado. Teria amado cada gesto seu. Teria dado vida a seu sorriso torto. E não teria que saber pelos outros quem você é. Eu teria levado sua toalha. Teria molhado nosso lençol. Eu teria aprendido a cozinhar. Teria desembaraçado seus cabelos. E teria comemorado a data de nosso primeiro tudo. Eu te compraria presentes. E te mandaria bilhetes. Faria você esquecer que existem ciúmes. Eu seria fiel. Eu te deixaria voar. Nunca pude te dar carinho. Nunca. A verdade é que eu nunca teria que escrever algo assim... O que escrevo é o que engulo. É o que não consigo te dizer. O que escrevo é o que vomito. É o meu ato reprimido. O meu 'te amo' calado. Meu sentimento contido. O meu amor entranhado. Nunca saberei se sabe que tudo isso é seu. Se você tivesse ficado, talvez soubesse. Se você tivesse ficado eu teria te amado. Se é que você chegou a vir. Mas se você vier eu te amarei. E o dia será claro e quente. A noite será clara e quente. E seremos dias e noites e claras e quentes. O que será? O que seríamos? O que somos? E o que seremos? Se é que seremos. Se é que te amo. Se é que te amei. Mas se você tivesse ficado. Se você tivesse ficado eu teria te amado.
Nunca estive tão perto de enlouquecer.

domingo, 11 de outubro de 2009

entregue.

Como sabe me prender.
Mordaça que fere,
cicatriz que queima,
amor que me dói.
Vem até mim,
me cura.
Jura me amar.
Te nego.
Me entrego.
Desintegro.
Aos poucos viro pó.
Debruçado em seus braços,
paralisado por seus abraços,
aprisionado nos olhos seus.
Imerso em tristeza,
digno de piedade.
Me entregue de volta a paz.
Me entregue tudo o que levou;
calma, sonho, luz.
Te entregue a mim.
Se entregue.

O que me falta é a falta que faz ter você aqui.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

anestesia.

Estranhei,
logo que apareceu.
Me esquivei,
assim que vi se aproximar.
Hesitei,
por um minuto talvez.
Me arrisquei,
um passo e então dois.
Ali fiquei.
Parada,
não disse nada.
Tampouco fiz.
Pensei me aprontar,
te enfrentar.
Parti,
tão logo tropecei.
Cai.
Me ergui.
Andei na contramão,
suportei.
Busquei curar-me.
Anestesiar-me.
Abstrair-me.
Me fiz fuga,
um refúgio pra te receber.
Daí me acostumei.
Acomodado estou.
Já não procuro por amores.
Só o que quero é sua metade.
Só o que quero é me sentir inteira.

Temo subverter.