quarta-feira, 23 de setembro de 2009

parem de me inibir.

É proibido, proibido, não, não é permitido, é contra os bons modos, os padrões, a lei e todo o escambal. É só o que vejo. Por todos os lados, em todos os bares, praças, móteis. Meu carro placa 2200 não trafega às sextas-feiras. Em festas, nada de jeans. Tênis? Seria uma agressão à etiqueta. Em alguns lugares, fumar já não se pode. Se chego de porre, não presto. Nem mesmo amor me deixam sentir. Está errado, não é normal, é contra os costumes, as pessoas vão falar, a família vai se sentir envergonhada. É proibido amar! A igreja com sua doutrina retrógrada não aceita o casamento entre iguais, o uso da camisinha. Não. Prefere disseminar o preconceito, as doenças, o discurso de 'preservação' da vida. Nas ruas policiais hipócritas portam armas, metem medo. Traficantes portam armas, metem medo. Bandidos portam armas, metem medo. Corruptos portam armas, metem medo. E em meio a tanta sujeira o cidadão de bem, assim como eu e você, é proibido por esses a quem teme. A democracia é forjada, forçada, fajuta e dissimulada. Assim como quem sobe no palanque para profanar palavras de cunho eleitoral. A verdade é que essas proibições de nada adiantam. O que deveria ser punido está à solta. Os verdadeiros ladrões tem a lei ao seu lado. Enquanto os que não tem certos privilégios vivem assim, sem poder. Digo o poder de posse, o poder de fogo, o poder da liberdade, o poder que permite fazer. E embora esse meu dilema tenha um certo tom de esquerda, talvez anárquico, não escrevo intuitando mudar o mundo; sem esse tipo de pretensão. Tudo que quero é sentar na grama, dormir no parque, correr completamente nu em plena rua; quero beber segunda-feira, trabalhar domingo, quero ser. Sem inibições.

É pedir muito?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

escrito pra você.

Ultimamente me tem faltado tesão. Esse seu veneno viciante que suga e quase mata me tira as forças, me nega o sentir que há no prazer. Se fui mesmo o maior dos seus casos, o entrelaçar de braços que nunca esqueceu, onde é que foi parar a simplicidade desse amor? Não nos resta ao menos o trocar de olhares. O tocar de mãos. Me lembro de cada detalhe do seu rosto sorrindo, de cada detalhe do menor gesto seu. Sinto o gosto de seu perfume, vejo o suor de sua pele. Me lembro, em cada detalhe, daquela grade de portão, feito muro; feito ponte. Grade que nos unia sem nos unificar. Ainda estávamos ali, de pronto, prontos pra ceder ao fervor e à paixão. Não o fizemos. Parados nos amamos. E foi então que tudo se perdeu. Tento arrancar você de mim e, frustrado, admito te fazer em cada coisa que sou capaz de ver e viver e sentir e amar e odiar e tornar a amar. Chegam a me faltar ausências. É você a minha saudade. Essa doença que te sobra, te faz louca. Louca de loucura e de lucidez. Louca quando teme a entrega e depois se entrega e renega e se vai. Te ter como forma viva de amor se tornou pra mim algo atemporal. Você é o presente que caminha em direção ao futuro. É lá, onde vai estar. Você é o ontem. O hoje. É o amanhã. Amanhã? Depois? Um ano? Ou dez? Pouco me importa. O que me releva, o que me eleva sem deixar cair à beira do silêncio que se fez precipício é a certeza de que sua lucidez vai passar a ser somente lúcida e ficaremos juntos. Sempre. E é assim que não me deixo explodir de tanta agonia. E é assim que sinto você mais perto de mim, outra vez.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

folha seca.

Veio a primeira gota.
Mais um fim de inverno seco.
Os ventos trazem consigo os ares de esperança vindos da primavera.
A chuva me toca, me deseja amar,
cada parte.
Inundado eu estava.
Inundado de lembranças.
Sinto a nostalgia nítida,
a ponto de tocá-la com as próprias mãos,
no fechar dos olhos.
Anos à frente, cá estou.
É como um flashback.
Vejo o amanhã, no ontem.
Sustento meu corpo cansado,
farto de viver em um mundo
em que minh'alma não quer freqüentar.
A insônia me toma,
a solidão vem.
Na boca o gosto forte de café e tabaco
se fazem um enquanto me faço dois.
Apenas eu.
No princípio intimista da realidade recriada
me preparo para o entrar da nova estação.
Agora quero ser um só,
quero ser só um.
Eu e você.
Tomar seu corpo, ser seu corpo.
Te sentir assim, em mim.
De volta ao presente, cá estou.
E... pronto.
Você se foi,
feito folha seca de outono,
pelos ares.
Sem rota.
Sem volta.

Volta.

domingo, 20 de setembro de 2009

água.

Lá quero ser eu o chão que pisa,
depois cospe e torna a pisar?
Como posso querer curar essa demência que te vive
e me mata aos poucos?
É pouco.
Já não satisfaz.
A carne crua que te reveste a pele não alimenta.
Não me mata a fome,
de homem.
O suor que te escorre por dentro não mata a sede.
Queria ao menos um gole.
Estou sedenta,
de amor.

facetas.

Suscito-me em pensamentos e sentimentos,
assim bem sucinto.
Só eu.
Permito ideias,
renego impulsos,
sofro certas transformações.

Jogo-me na esquina,
ao cair da madrugada,
é lá onde sempre estou.
Ali.
Jogado, caído, ao chão.
Como quem foge da realidade
transporto-me nas variantes
do estado de 'ser'.
Sou a possibilidade da alternativa
em forma viva de representar.
Sou o encontro da paz ao caótico.
Sou o ator em palco.
O palhaço de circo.
O mendigo na sargeta.
Sou em perspectivas,
em várias dimensões.
Descubro-me em cada parte,
junto os pedaços,
vejo-me assim.

Um caco.