sexta-feira, 4 de novembro de 2011

tempestade.

Era madrugada de quinta-feira, certamente o verão ainda não chegara. O céu tímido, muito escuro. Nada de sol ou lua para iluminá-lo. Meu corpo só era corpo. Nada de alma ou coração para despertá-lo. Eu sentia cansaço e um sono tão agudo e profundo que chegava a doer. Foi quando caiu a primeira gota. Gelada. Em meu rosto parecia que acabara de cair uma lágrima. Mas não era uma lágrima que me pertencia, mas sim àquela nuvem negra. Fazia um barulho estonteante, que assustava a qualquer pessoa que ainda caminhava nas ruas da cidade. Os ventos se encorajavam naquele instante. E eu ali, esperando pelo cair da segunda lágrima, digo, da segunda gota. Quando dei por mim aquela nuvem negra chorava com uma intensidade emocionante. Foi quando me vi chorando também. Fosse por tristeza, fosse apenas para fazer companhia ao céu. Sentia meus dedos dos pés dormentes. As mãos estavam trêmulas de tanto frio. Despi-me inteiramente para sentir aquele aguaceiro cair pelo meu corpo; sempre gostei da chuva. Fosse pelo cheiro de terra molhada que me remetia à minha infância, fosse pelo simples fato de me sentir novamente de alma limpa depois de um banho. Dali, onde estava, via uma mulher se escondendo por debaixo de um toldo e, subitamente, atentei-me ao que ela fazia. Parecia ser muito bonita, pelo menos de longe era essa a impressão que eu tinha. Fui até lá. ''O que quer de mim?", ela disse. ''Do rosto eu quero a maçã, da boca uma mordida", respondi. Ela me pareceu assustada com aquelas palavras, mas continuei a seu lado, nua, esperando que ela falasse que queria o mesmo. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela levantou-se e deu-me um abraço que há muito eu não recebia. Saimos dali e fomos andando de encontro à tempestade. Foi ai que ela me beijou. E foi ali, naquele momento, que toda a dor que eu sentia acabou-se instantaneamente. Foi o beijo mais molhado que eu já dera em toda a minha vida. De mais sabor. De mais intensidade. Ela se despiu também e fizemos amor. Na rua. Chovendo muito. Mal acabamos e ela disse que teria que ir embora. Nessa hora a tempestade abria lugar para o nascer do sol. Eu disse não, mas nem assim se pode evitar. Ela se foi. Não sei seu nome. Não sei onde mora. Não sei onde posso encontrá-la. Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu vou estar naquele mesmo lugar toda vez que se fizer tempestade. Quem sabe então assim, ela não volte para mim? Daquele lugar onde minha alma e meu coração voltaram a habitar meu corpo, daquele lugar eu jamais poderei esquecer.  

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