terça-feira, 27 de outubro de 2009

ponto final.

Ainda ontem inteiro.
Bastou uma só palavra sua,
hoje em pó.
Você poeira,
que se foi.
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Era só uma resposta. O que eu precisava. Uma resposta pra que eu pudesse entender nosso fim. Sei bem que quando uma coisa não começa não pode acabar e que é preciso viver tudo aquilo pra dizer que existiu e que não vivemos e que não sabemos o que foi que vivemos mas é que essa coisa me consumiu e ai você sumiu sem deixar endereço e eu fiquei aqui sem entender buscando o por quê dessa coisa toda que acho até que seja amor. Estava de porre e por isso te liguei. Não estou dando desculpa até porque é você quem devia me pedir desculpas por todas as culpas que me fez sentir. Mas eu estava de porre. Vazia, uma garrafa de conhaque. Limão, gelo, sal. Eu tinha que dar um jeito de sair de mim pra que eu pudesse te ouvir dizer o que eu já sabia que você ia dizer mas eu não queria escutar aquelas palavras que viriam acabar de vez com a fé que ainda pulsava em meu peito nu. Eu não suportava escutar sem que eu me embriagasse. Talvez como um bêbado, como um bêbado e louco, eu me esquecesse, eu me fizesse amnésia, eu fingiria não saber o o que eu já sabia que você diria. E você disse. E eu me lembro. A bebida não fez de mim um esquecido. Você disse. Justo o que eu não merecia ouvir. “Foi engano. Tudo não passou de engano.” Ai eu te digo. - Engano? E quanto a tudo aquilo que dissemos? Aquele abraço foi um engano? O tempo não marcava as horas naquele instante e você vem me dizer que foi engano? Aquele beijo quase que doído e desesperado numa madrugada ainda mais fria do que aquele frio fim de tarde em que te conheci? Isso também foi engano? Não, não posso entender. Posso menos ainda aceitar. Você não seria tão personagem. Eram poucas as suas palavras. Mas seus olhos; seus olhos me diziam mais. Não era um cenário. Não era um simples texto decorado por você. Não é justo que fosse. Não é justo que eu tenha entrado em sua dança, não é justo que eu tenha te enfeitado a cama, que eu tenha amado assim sem que você sentisse pelo menos uma fração do que eu sentia. Não é justo. Quando ouvi meu telefone tocar, já esperava sua ligação. Você iria retornar àquele meu primeiro sinal. Te digo que precisava mesmo daquilo. Era como uma libertação; uma prece fervorosa em inteção a mim. Eu sabia que depois daquele telefonema eu seria livre. Eu sairia das grades que não me permitem ver a luz. Que não permitem à luz o tocar por inteiro meu corpo. Grades que me fazem sombras. Eu me sentiria fora do seu compromisso, dentro da rotina de um outro alguém. É, porque até então, eu ao menos me dei a chance de encontrar uma nova forma de ver o amor. Mas depois daquela ligação, depois disso eu me deixaria viver. Pra mim chega de solidão. Chega de alimentar amarguras. Chega de fundo e chega de poço. Chega de tristeza no olhar. Chega de mentir pra mim mesmo. Chega de pesos e chega de passado. Eu te desejo um amor com amor tal qual o meu. E te desejo coragem. Sonho. Estradas sem fim. Te desejo sorrisos. Te desejo lágrimas. Eu te desejo tudo aquilo que desejar. Faz chuva nessa madrugada. E esse é meu último adeus. É a última vez em que falo pra você, meu amor, de amor. Será hoje o dia em que irei dormir sem antes pensar se você pensa em mim. Se você me espera. Se você me amou.Vou recuperar aquilo que há muito me deixei escapar; dignidade. Vou viver sem vírgula, reticências ou interrogação. Quero agora um ponto. Um ponto que me leve a um novo caminho. Um ponto que me deixe pronto pra recomeçar. Que me deixe pronto pra te encerrar. Era isso o que eu precisava. Uma resposta que nos desse um ponto final. É justo não mais falar de amor.

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Ainda hoje em pó,
bastou uma só palavra sua.
Amanhã, inteiro.
Você poeira,
que se foi.

3 comentários:

  1. Quase sem comentarios...Parabens duas vezes!

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  2. Essa coisa de ler e conseguir entender como se estivesse falando do lado... eu amo auahau'. Texto foda, ofegante, parece que você ficou sem fôlego. Lendo eu fiquei rs.

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  3. =) Não tenho nem o quer falar.. sou sua fã... você é muito foda.!

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