sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

confissão.

Eu queria conseguir descrever aquela sensação. Foi instantânea à minha entrada. Uma fenda separava o que ficava dentro do que ficava fora. E eu ali, na parte de dentro da coisa. Acima eu não via, mas sabia que havia cordas que sustentavam até 300 kilos. 'Estou só aqui e, afinal, meu corpo não pesa tanto', pensei tentando ficar um pouco mais confortável. E a porta se fechou. Eu respirava acelerado, os batimentos do meu coração ameaçavam chegar a zero, eram lentos, bem fracos, eu rodava ao redor de mim mesma, inquieta, vendo imagens monstruosas se projetando no espelho, o tempo parara, eu podia ficar presa, as cordas podiam se arrebentar, e o ar me entrava forte, era como se eu puxasse com raiva temendo que acabasse, o pânico já me doía nesse momento, e nada, não chegava, 'por quê é que não peguei as escadas?', foi então que o choro começou, eu podia ouvir com clareza e vinha de um bebê, e depois o grito de uma mulher, impotente, assim como eu, e a voz de um homem dizendo que tinha chegado a sua hora de partir, era o que eu queria naquele instante, mas eu não tinha pra onde ir, tentei me esconder debaixo dos meus próprios braços, fechei os olhos em desespero, não queria ver tantas sombras e imagens e não queria que aquelas vozes continuassem, e elas não paravam, o choro agora distante, o grito ofegante, a voz ameaçadora e nada, parecia haver horas em que eu estava lá dentro e nada de décimo terceiro andar, eu agora suava frio, sentia minha pressão caindo por minhas pernas, como se me tivessem golpeado, estavam trêmulas, eu em choque, sentindo um aperto no peito e um medo e um pavor e eu queria sair dali e... finalmente. Chegou. Saí daquela caixa do terror e; toc, toc, toc. Entrei. Deitei-me. Tomada de insônia e dor. Desde então, dia a dia, minuto a minuto, me aumenta o pânico, de chuva e de carro e de gente e de água e de fogo e de claridade e de escuridão. Eu tenho medo do próprio medo. Não posso mais ficar só. Vigiam-me em tudo o que faço. Mas olhe só como é que as coisas são, logo agora, logo agora que eu começava a entender o que era ser livre. Logo agora que eu começava a gostar de mim. Não sei se me gosto. Não dessa maneira. Eu quero ter coragem. Pra enfrentar o que mais me amedronta. É que começo a ter medo de... viver.