quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

abertura.

Eu queria tapar o buraco. Digo, o buraco das verdades amargas que me habitam. Elas moram mesmo em mim. E não há ninguém nesse mundo que as conheça. Porque ficam dentro. E só o que deixo que vejam é o que fica fora. É como uma casa. A fachada parece normal. A cor é das bem coloridas. E o muro, ah o muro, ele esconde. Tudo. É alto demais pra que possam escalar e, se o fizessem, acabariam num choque. Porque eu, eu sou o interior dessa casa. Eu sou o que ninguém pode ver. Eu me escondo. Em fachadas. Mentiras. Ilusões. E muros altos. Eu me cerco. Por cores. Exteriores. Preguiça. E oposição. Eu queria tapar o buraco. Digo, o buraco das verdades amargas que me habitam. Elas moram mesmo em mim. E eu já tentei me conhecer pra todo mundo nesse mundo. Tentei ser de muitas formas. Mas nunca fui. Porque eu não me deixei. E começo a ver isso agora. Usei das pessoas. Pra tentar tapar esse buraco. Sempre tinha alguém que servia pra alguma coisa. É feio dizer isso. Mas ah, já fiz tanta coisa feia nessa vida. É a verdade, as pessoas serviam pra alguma coisa. E na maioria, serviam pra esconder de mim mesma essas tais verdades. As amargas, que me habitam. Porque se eu significasse algo pra alguém, queria dizer que eu tinha um significado. Sabe quando a gente se sente como se faltasse uma parte? Sabe quando a gente se sente alguém que vivo ou morto, bonito ou feio, magro ou gordo, em nada importa? Era assim que eu me sentia. Alguém-que-não-faz-a-menor-diferença. Nossa, isso tá ficando confuso. Então deixa eu voltar ao ponto, se eu significasse algo pra alguém, quer dizer que eu tenho um significado. Certo? Então eu usava das pessoas, queria que elas me vissem em algum valor, vivo ou morto, bonito ou feio, gordo ou magro, pra que eu também me visse assim. Era urgente que eu me encontrasse. Foi ai que comecei a denominar cada pessoa. E cada um, isso eu digo com certeza, servia como proteção. Pra tapar o buraco. Mas é que eles deixavam sempre uma fresta e eu sou pouco satisfeita com coisa pouca. Então resolvi. Melhor mesmo é deixar o buraco aberto. Digo, o das verdades amargas que me habitam. Porque pensei, -pelo menos são verdades. Chega de mentir. Chega de tentar me esconder. Atrás de muros. Atrás das pessoas. Eu resolvi deixar com que as verdades saíssem de lá. Do buraco. E eu estou me acostumando com isso. Digo, comigo. Eu começo a achar que as mentiras eram o que amargava. E começo a ter a certeza de que sou eu quem precisa achar um significado do meu eu. E eu não significo em vivo ou morto, bonito ou feio, gordo ou magro. Eu significo em virtudes. Eu significo em mim. Eu me habito em mim. Eu nunca fui tão eu.

3 comentários:

  1. 'E começo a ter a certeza de que sou eu quem precisa achar um significado do meu eu.'

    Adorei.
    Parabens!

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  2. "Eu nunca fui tão eu." belo texto. mais estou assustado.

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  3. Parabéns !
    Continue sendo quem você é, assim continuará tendo alto valor para as pessoas que convivem contigo !

    =)

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