sábado, 4 de agosto de 2012

castigo.

Talvez seja hoje o meu primeiro dia de vida. Sim, acabo de nascer. Nasci eu? Ou nasceu um monstro? Pergunta que segue e segue e segue. Segue sem resposta. Eu queria descansar desse peso pelo menos por um dia. As costas doem, sabe? Claro que ter um quarto só para mim já é um conforto. Quando estou só, apenas eu e essa minha cabeça transbordando pensamentos esquizóides, quando isso acontece eu não sei se agradeço ou se peço logo para que termine de uma vez. É que hoje descobri que tenho medo do que penso. Se eu dissesse o que se passa pela minha loucura doce nesse momento. Ah, se eu dissesse. Mas não digo. Não. Há coisas que guardo para mim. Porque não consigo compreender, aceitar, sentir, falta coragem para continuar. Tenho medo, muito medo. É aquela típica sensação de não gostar de claro, mas não saber se comportar no escuro. Por isso acendo uma vela e nela vejo um pouco da luz que ainda me resta. É um grito de horror. Uma força que seca a cada segundo. Uma hora que não passa. Um passado que não volta. Um futuro que não tem porvir. Tudo isso vai ter um final. Quando eu desistir de lutar. Ou de carregar esse peso de não saber se eu sou eu, ou se eu se trata de um monstro. Tropecei. Cai. Levantei e tornei a tropeçar. Passos falsos a todo momento. Isso me causa imensa dor. Dor lancinante que corrói cada parte de minha carne ainda crua. Quero inflamar. Sentir o cheiro da minha própria carne queimando  e, depois, que alguém jogue os ossos aos cães! Disseram-me que eu tenho que ser feliz. Chorei muito quando ouvi isso. Afinal, não sei como atingir essa plenitude. O simples fato de estar viva deveria fazer com que eu fosse feliz? A felicidade me ultrapassa. Seja lá qual significado ela tiver. Pela primeira vez eu vou dançar. Conforme a música? Não! Conforme a dança. A dança da vida. A dança que permite trocar de parceiro ou sambar completamente só. É, é bem isso que eu vou escolher para mim. O meu destino sou eu quem vai traçar. Lálálálá! Um, dois, passo, três. Sozinha. Junto apenas com o monstro que insiste em acompanhar meus passos. Ao som das vozes que guiam minha mente. E não. Hoje não é o meu primeiro dia de vida. É o último. Sim, acabo de morrer. A morte é a minha maior vingança.