segunda-feira, 17 de junho de 2013

Belo Horizonte, 17 de junho de 2013.



Tempos antes da manifestação:


Dinheiro na mão,
as portas se abrirão?
Não é assim que funciona,
senhor capitão.
A gente é assim,
brasileiro, povo,
massa, gama, trabalhador,
torcedor da nossa pátria.
Diz-me quem lhe deu esse sorriso antes, irmão?
Diz-me quem enfiou o corpo no buraco,
pra você colocar a sua bunda, fale.
E quem foi que disse que a polícia vale,
um terço do que cabe?
E quem foi que disse que o brasileiro vence,
mais de um terço do que sente?
Porque não pode, não deixam,
eles só são cruéis.
A gente tem voz ativa,
vamos mostrar que a gente tem!
Vem, faz parte do show!
Vem, da sua face pro nego bater!
Da as duas, dá as mãos.
Ditadura dissimulada,
democracia torta.
Eu vou te abrir a porta.
Porque meu sorriso eu não vendo.
Porque do seu dinheiro eu não estou vendo.
Se realmente da, alguém tira.
Se realmente da, é pra tira.
E se está aqui, não diga bobagem,
vamos pra margem,
vamos liderar o entorno
que dai ninguém sai de dentro.
Ninguém pode dizer o que somos.
Esse é o sentido do que fazemos.
Esse é o sentido do que faremos.
Lutar.
Contra essa merda toda
que me deixa sem ar,
tamanho o cheiro fétido
e podre que paira quando penso
no outro lado da mão,
o peito pulsa por democratização.




...



Tempos depois:


A foto lá do meio,
foi tirada com amor.
Amor pela pátria,
pelo sorriso banguela de um indivíduo.
É tanto amor que se encara as máscaras,
com a certeza de que elas podem cair,
ao simples tiro de um cara da lei.
Eu fui.
Sou testemunha do que houve.
Houve repulsa das minhas entranhas,
houve falta de fôlego dos meus poros
e uma súbita vontade de dizer o que eu vi.
Eu vi policial sendo louvado,
porque fez uma foto lá do meio.
Eu vi policiais sendo vaiados,
pelo 'simples fato' de atirarem bombas
vindas de frente, de lado, de cima, inferno  que é,
nas pessoas que estavam ali de forma pacífica.
Eu vi gente jovem,
gente velha,
eu vi família,
eu vi criança,
eu vi minha cara pintada,
eu vi minha força renovada,
por tanto querer aquela mudança.
Eu vi policiais escravizados,
escravizando um povo que luta,
que chora,
que sonha,
que espera pelos ideais,
mas sem deixar com que eles sumam,
em função de um bando de filho-da-puta,
que esconde a cara e bota o rabo entre as pernas.
Eu vi alegria acometida de grito,
mas sem deixar de ter fé.
Palmas e vaias...
Palmas e correntes...
Palmas, solte-se, minha gente!
EU vi esperança nos olhos das pessoas,
vi esses mesmos olhos chorando já que
era nítida a fumaça branca que cegava,
deixava rouca a voz que só queria falar:
violência não.
EU vi que quem estava ali,
metia a cara pelo país.
O problema não era só o futebol.
O problema não se resolvia por vinte centavos,
nem poderia ser trocado por algum trocado.
EU vi que aquela gente só queria
poder andar pela rua da sua pátria,
sendo melhor tratado do que um gringo
que não sabe nem um bocado,
o que é ter o corpo marcado
de falta de democracia,
e uma ditadura que já se instala,
sorrindo dissimuladamente.
Basta olhar na foto lá do meio.
Basta.
Basta de bombas!
Basta de tiros!
Basta de tanta falta de vergonha na cara.
Basta,
Hoje eu fui feliz,
por ver que há muita gente querendo mudança.
Hoje, cada lágrima que escorreu de meus olhos,
sem que eu estivesse triste,
escorriam, porque eu era bombardeada.

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