Não é que eu esteja triste.
Ou desiludida com tudo o que se passa ao meu redor. Não. É que eu tinha dois
caminhos para seguir. E escolhi o que estava em minha frente. Ai, a mim me
pergunto: o que teria acontecido se eu tivesse virado à esquerda? Será que eu
teria mais ódio no coração? Ou continuaria com essa ausência que me cerca? Sim,
ausência. Por mais que me doa, por mais que me faça mal, eu não consigo sentir
ódio por nada nem ninguém. Talvez, se eu tivesse escolhido o caminho da
esquerda, eu conseguiria odiar a pessoa que amo. Conseguiria sentir ódio da
vida. Mas não. Eu continuo amando a quem nunca me amou de verdade. Pessoa e vida. Ambas só me fazem mal. E eu aqui, dando voltas, tentando quem sabe
extirpar todo esse sentimento de dentro de mim, mas, ao contrário, conseguindo
apenas que ele permaneça dentro do meu peito. Não é que eu esteja triste. Mas
com tamanha dor pelo que me faz viver. Eu penso tanto no que pode acontecer se
eu parar de andar apenas em frente. Eu preciso virar! Virar, desvirar e tornar
a virar. Eu preciso de emoção. De aventura. De paixão. Eu preciso esquecer-me
dos critérios. Eu quero querer. Mas como? Como dizer a eles que eu não os quero
seguir? Que eu não os quero obedecer? O gosto disso é azedo. E, ao mesmo tempo,
amarga. Eu só queria um pouco de doçura. O ódio é doce? Porque se for eu quero
odiar. Desprezar. Matar. Olhar-me no espelho e me ver exatamente como sou. Não
uma imagem de alguém que não sabe o que é. Quem sabe depois disso, vendo-me
como sou, eu consiga sentir ódio de mim. E, sentindo ódio, eu consiga
desprezar-me. Matar-me. Livrar-me de todo e cada peso. Encorajar-me a fazer tudo o que andam dizendo para eu
fazer. Eu quero seguir o caminho que leva ao lado. Ao lado oposto da vida. Ao
lado que dizem ser infinito.